Tuesday 26 July 2022

FUTURISMO: GERENCIE O TURISMO DE MASSA ANTES QUE ELE PASSE A GERIR VOCÊ.





 Por Álvaro Ornelas*


O FUTURISMO, ou seja, o turismo com a força de tornar o mundo melhor e mais dinâmico de forma sustentável, não é somente uma utopia é de fato uma crença de que existe forma de entender e impactar melhor um destino turístico e seu “destino”| “missão”.

De fato quando viajamos, nossas mentes se abrem. Aprendemos sobre outras pessoas, culturas, ideias e ambientes. Acima de tudo, aprendemos sobre nós mesmos. As viagens podem fornecer uma nova perspectiva que desafia os viajantes a pensar de forma diferente e a mudar certos comportamentos. Ao longo do caminho, nós criamos memórias que levaremos para o resto de suas vidas. E isto é impactante demais em uma existência humana.

Muitas maneiras, os visitantes também podem agregar valor aos lugares que visitam. Eles podem se conectar com pessoas que pensam como você. Podem trazer diversidade, perspectivas ou uma nova troca de ideias. Eles podem decidir se mudar para um lugar, estudar lá ou abrir um negócio. Eles podem aumentar a reputação de marcas e produtos locais. Eles podem ser uma razão para uma maior proteção ambiental e cultural. Eles podem ser a razão da infraestrutura e comodidades que os moradores desfrutam. Eles também podem trazer capital intelectual, social, econômico ou – ainda mais importante – o que Pierre Bourdieu (2013) chama de capital simbólico** para os moradores de um destino. É bom viver em um lugar que é bem conhecido ou popular.

Dado esse potencial para o bem, é extremamente alarmante que em alguns lugares esteja acontecendo exatamente o oposto. Em vez de melhorar a qualidade de vida, o turismo tornou-se, em algumas circunstâncias, disruptivo e destrutivo. Imagens de superlotação passaram a representar muitos problemas relacionados à sustentabilidade e insatisfação dos moradores em nossos meios de comunicação.

Embora a realidade seja muitas vezes mais sutil, o turismo muitas vezes carrega muita responsabilidade. Alguns destinos populares são amados até a morte, enquanto outros sofrem de má gestão. Muitos livros e artigos foram escritos sobre as causas, efeitos e impactos da superlotação, o que mostra que muitos outros fatores estão em jogo. Os impactos resultaram em uma reação significativa contra o turismo de residentes em lugares ao redor do mundo.

Temos a responsabilidade como “economia do turismo” de levar isso muito a sério.

Alguns dos principais pensadores da “economia do turismo”, defendem uma nova abordagem radical para o turismo como um todo. Essa mudança está frequentemente interligada com os desafios que enfrentamos globalmente, incluindo gentrificação, crises habitacionais, a crescente lacuna entre ricos e pobres e mudanças climáticas.

Aqueles líderes (no setor público ou iniciativa privada) defendem que um sistema econômico baseado no crescimento contínuo não é sustentável e que deve ser substituído por sistemas que levem a uma economia regenerativa, onde o sucesso é medido em equilíbrio com fatores ambientais, sociais e culturais. Esses princípios se alinham com os argumentos de Kate Raworth (2017) em seu livro Economia Donut (vale a pena a leitura). 

A OSN CONSULTORIA acredita que é preciso sair de um sistema econômico puramente baseado no crescimento. Estamos mais conectados por um ecossistema global do que por uma economia global. Temos a responsabilidade moral de proteger os lugares que representamos. Se esse argumento não for suficiente, precisamos proteger os ativos que, em última análise, sustentam a economia do turismo. Trocar nossa qualidade de vida ou ativos ambientais por dinheiro não é apenas moralmente errado, também não faz sentido comercialmente, seria como consumir o seu próprio estoque.

Ponto de partida rumo à mudança é uma aspiração, mas muitas vezes vem com pouca especificidade. O foco de municípios e empresa do turismo está na promoção, no marketing , na comunicação de suas referências e especificidades. Com o foco no marketing, mesmo que muito feito não se pode mudar um sistema econômico global. Mas pode fazer muito trabalhando dentro de um ecossistema de negócios turísticos e assim localmente contribuindo para a sonhada mudança.

Vi, na prática, isto acontecer no município de Bento Gonçalves no Rio Grande Sul, em 2009, quando era um sub-produto da “locomotiva do turismo nacional - Gramado”, e atualmente (2022) é um destino turístico com foco específico e tem uma economia do turismo focada, dedicada e integrada com outras empresas de diferentes “indústrias” (no caso, moveleira e construção civil). Exemplo prático de como transformar a economia de forma sustentável e de forma inovadora. Para esse fim, precisamos desafiar a suposição de que o crescimento econômico é sempre o único objetivo. Em vez disso, precisamos olhar além dos objetivos econômicos e incluir objetivos ambientais, sociais e culturais, porque o crescimento econômico é um meio para atingir um fim. No caso de Bento Gonçalves é promover experiências e fazer vale o seu slogan de comunicação no mercado turístico – “Pura Inspiração!”.

Defina o fim e você entenderá os meios. Identificar e medir esses objetivos adicionais é um primeiro passo importante para gerenciar o crescimento econômico de forma responsável. Para operar uma economia do turismo viável, você precisa do apoio de seus moradores. Ian Thomson e Robert Boutilier (2011) chamam de LSO - Licença Social para Operar em seus artigos que trazem exemplos práticos do funcionamento e das estratégias usadas para “obter” a licença social de operação de um destino turístico. Se o município recebe esta licença de seus residentes significa que a sinergia entre pessoas e empresas estarão vibrando no mesmo sentido, de mudar, por meio do turismo uma economia local. Cada lugar é diferente (ainda bem que é) e, posteriormente, cada licença também. Como uma licença social é simbólica, ela não vem com limites específicos. No entanto, acredito que se possa analisar onde estão os limites e encontrar maneiras de afetá-los de forma orgânica ao processo já iniciado.

Para aqueles que não acreditam que seu “Destino” (duplo sentido aqui) esteja perto do limite superior, a pressão do visitante muitas vezes pega os destinos de surpresa. Todo lugar tem um ponto de inflexão. Esse princípio de crescimento exponencial pegou muitos lugares de surpresa. Como exemplo vivenciei a Praia de Canavieiras em Florianópolis, exemplo típico de como a sucessão de lideranças públicas fracas e sem entendimento pleno sobre aceleração econômica “matou” a praia como atrativo Premium do Turismo de Sol e Praia e de Eventos Esportivos Internacionais na década de 80. Somente agora em 2020, sua faixa de areia foi alargada, porém ainda não tem sistema de esgoto adequado. Triste e caro demais para “reinventar”.

Para saber o que fazer, você precisa entender onde estão os limites da sua licença social. Seus residentes são as únicas pessoas que podem lhe dizer esses limites. Exige conversas, diálogos, eventos locais e estratégia de comunicação constante. O “inner-marketing” para manter acesso a economia do turismo para aqueles moradores que “não entenderem o valor do turismo”, mas ainda não foram apresentados de como eles participarão da economia do turismo se concederam a LSO local.

Se acende o sinal de alerta quando se tem forças contrárias a mudança e ao crescimento econômico sustentável proveniente da economia do turismo. Talvez eles entendam perfeitamente, eles simplesmente não gostam de onde está indo. Identificar e comunicar é o ponto Zero de qualquer estratégia de aceleração econômica de território.

Não se pode mais se esconder atrás da velha e cansada linha de que “nosso papel é apenas promoção”. Esses dias acabaram. Muito pouco se tem falado sobre desenvolvimento de destinos por um tempo. Bem, agora é um bom momento para levar isso a sério, o mundo pós-pandemia trouxe uma “força” nas LSO pois o sentido de existência no planeta sofreu impactos em todas as classes sociais o que impacta diversas industrias, mas certamente a economia do turismo foi a mais impactada durante os dois anos de pandemia, mas certamente é a qual tem MAIS VALOR após.

Então deixar os residentes falarem quais são seus sentidos de vida, de viver. O que qualidade de vida significa para cada um hoje.

Compreender como os ativos ambientais e culturais podem sustentar, crescer e florescer sob o turismo. Como os visitantes podem agregar valor a um lugar em vez de tirar valor. Esta é a essência da gestão de destinos. É muito diferente do que você está acostumado. Requer novas capacidades, pesquisas, processos, colaboração, estratégias, sistemas e táticas.

Às vezes, os moradores dizem todas as coisas certas, mas não fazem (quase) nada. O que precisamos é de ação real. Caso contrário, um dia, sua “Praia de Canasvieiras” ficará imaginando o que aconteceu, tanto como profissional de turismo quanto como morador do lugar que representa. Isso não é um fardo, é uma oportunidade real de re-significado local para um futuro mais brilhante no mercado de forma geral.

Pense no impacto positivo que você pode ter em sua comunidade como organização (púbica ou privada) e como indivíduo que se preocupa profundamente com as pessoas e todos ecossistemas (natural e econômicos) ao seu redor.

Acelerar territórios é o que fazemos, ajudar na obtenção da LICENÇA SOCIAL DE OPERAÇÃO de cada município ou região para seu futuro no turismo, seu próprio FUTURISMO.


Suce$$o !!!

💪🏻🎯


*Álvaro Ornelas é consultor especializado em aceleração territorial, atua no mercado imobiliário e turístico do Brasil. É diretor do Grupo Salomão. Um dos thinktank da Essência Náutica do Brasil, Fundador e Presidente da ANCORA (Agência Nacional de Cooperação em Redes de Apoio à Economia do Brasil do Brasil) também com experiência no desenvolvimento do cluster de produção náutica em Santa Catarina e de regiões turísticas em todo no Mato Grosso e Brasil. Idealizador do conceito SMART SEA criado por sua empresa de consultoria. É também sócio em marinas no Brasil e em condomínios inteligentes.

**Capital Simbólico: O capital simbólico refere-se a um: “grau de prestígio, celebridade ou honra acumulados e é fundado em uma dialética de conhecimento (connaissance) e reconhecimento (reconnaissance)” (Bourdieu, 1993, pág. 7). Em Distinção (1984), Bourdieu refere-se ao capital simbólico como: “a aquisição de uma reputação de competência e uma imagem de respeitabilidade e honradez...” (1984, p. 291). Bird e Smith (2005) observam a convergência entre Bourdieu e a teoria do consumo Veblen (1994) em que uma aparente falta de interesse em construir capital econômico na forma de consumo conspícuo ou generosidade atinge os maiores lucros em termos de capital simbólico. Há um custo para construir capital simbólico em termos de tempo, riqueza ou energia.


Referências Bibliográficas:

BAKKER, Willian. Destination Think. 2019.

BOURDIEU, Pierre. Symbolic Capital and Social Classes. Journal of Classical Sociology. Ed Sage, Londres, 2013.

BOURDIEU, Pierre. DELSAUT, Peter. Le couturier et sa griffe: contribution à une théorie de la magie. Actes de la recherche en sciences sociales. Paris, 1975.

DUBY, G. The Three Orders: Feudal Society Imagined. University of Chicago Press. Chicago, 1982.

GOFFMAN, E; The nature of deference and demeanor. American Anthropologist 58: pg 473–502. 1958.

RAWORTH, Kate. Doughnut Economics: Seven Ways to Think Like a 21st-Century Economist. ISBN-13 9896443475, 2017.

THOMSON, Ian. e BOUTILIER, Robert. Social license to operate. In P.Darling (Ed.), SME Mining Engineering Handbook (pp. 1779-1796). Littleton, CO: Society for Mining, Metallurgy and Exploration, 2011.

Foto Imagem:

Web Adobe Image @ www.destinationthink.com

Acervo OSN CONSULTORIA, Grupo de Turismo de Balneário Camboriú, 2009.



 

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