Entrevistas
Inovação em Gestão de Destinos
Projeto G.T.O
Hoje em dia, quando falamos em competitividade, a palavra de ordem que se impõe aos nossos gestores é inovação.
Mas o que realmente significa inovar?
E como as inovações podem ensejar de forma objetiva um incremento na competitividade dos destinos?
Para respoder a essas e outras questões, a Revista Mar Catarina buscou a palavra de um dos mais importantes especialistas no assunto: Álvaro Orelas, MBA em Administração Global pela Universidade de Indpente de Lisboa, consultor Máster em projeto em socioeconomia do desenvolvimento, empresário, ex-Sebrae, e co-autor de diversos trabalhos sobre desenvolvimento sustentável.
Só com inovação poderemos melhorar a qualidade e a produtividade sistêmica de nossa economia.
Em primeiro lugar, gostaríamos que o senhor comentasse sobre o conceito de inovação. Qual a importância da inovação hoje em dia, e quais os seus limites?
Inovação é um dos pilares da competitividade de qualquer negócio e certamente pode contribuir também para que a sustentabilidade desses negócios seja alcançada. Só com inovação poderemos melhorar a qualidade e a produtividade sistêmica de nossa economia.
O que deve ser levado em conta quando falamos em inovação aplicada à gestão turística?
Inovação de produtos turísticos, inovação em processos, inovação de uma estratégia de mercado, inovação na gestão turística, tanto de um empreendimento quanto de um destino. Inovação de produtos turísticos implica em considerar as características deste produto, a experiência ofertada, a forma como organiza informações e facilita a vida do turista na montagem de seu roteiro de viagens, entre outros aspectos. Inovação significa sempre o esforço de fazer diferente, agregar valor de forma a melhorar processos, a fazer mais com menos, reduzir impactos, proporcionar uma melhor fruição do produto turístico pelo turista. Facilitar a integração entre os agentes produtores da oferta turística.
Qual a contrapartida sócio-econômica presente na realidade global que enseja a busca constante pela inovação?
A competitividade é um imperativo, pois vivemos em uma economia aberta, inserida globalmente, que compete com outros destinos.
Neste sentido, poder oferecer produtos inovadores é parte de uma estratégia que busca superar o lugar comum das ofertas pouco segmentadas e de baixo valor agregado, mesmo no turismo de massa. Acredito eu pode e deve-se inovar mesmo no turismo de massa.
Sem inovação pouco pode ser melhorado em termos de produtividade, de melhoria da qualidade, da redução de custos, da minimização dos impactos da atividade turística. Inovação no turismo, que é um segmento emblemático da economia de serviços, passa tanto pelo aprimoramento profissional quanto pelo uso de tecnologias, como a melhoria infraestrutural, logística, facilitadora da experiência turística.
Ter estratégias adequadas e presença virtual ativa
em redes sociais
é fundamental.
Quando falamos especificamente do setor turístico, ao contrário dos demais segmentos da economia, a ideia de "competição" entre os empreendedores toma outro sentido. Como o senhor avalia as possibilidades de inovação relacionadas à ascenção das estruturas organizacionais em forma de redes de cooperação?
Sem dúvidas no turismo o conceito de competição, sobretudo num mesmo país, região ou destino, implica num binômio competir-cooperar, estar em rede, integrar-se à cadeia de valor, oferecer um produto composto, síntese das diversas ofertas individualmente.
Ou seja, a competição no turismo, depende desta base articulada da oferta, envolvendo todos os elos e mesmo dentro do mesmo elo, do mesmo segmento. Não adianta imaginar que o seu produto isoladamente fará a reputação de um dado destino.
Que sua pousada, restaurante, receptivo, etc., por ter padrões mais competitivos, vai consolidar um produto do tipo destino, que envolve uma base territorial dessa oferta turística, pois o elo mais fraco da cadeia é que dará a força da reputação. Se um elo é fraco prejudica todo o conjunto.
Daí por que estar em rede, cooperar, é tão fundamental. Por outro lado, isoladamente, os custos de transação serão sempre mais elevados como o esforços de promoção, de captação de clientes e mesmo de melhoria da logística de oferta de serviços.
Gestão de destinos é ainda uma enorme lacuna que observamos no caso brasileiro, pelas dificuldades de articulação entre os diferentes atores, pela não institucionalização de modelos adequados, pela baixa densidade de cooperação efetiva entre os atores, entre outros fatores.
De acordo com os resultados do Índice de Competitividade, os destinos brasileiros apresentaram muitas carências nas dimensões Marketing e Monitoramento. Tendo em vista as novas formas de comportamento dos turistas e a posição central que a tecnologia vem tomando nas relações de consumo no setor, como o senhor avalia as possibilidades de melhorarmos esse desempenho através de ações inovadoras relacionadas a essas dimensões?
O advento do uso em rede da internet teve efeitos muito interessantes no turismo. Não apenas na capacidade de oferecer informações e serviços, na fase pré-viagem, mas também no durante e pós- viagem, uma vez que permite o registro de dados, informações, fotos, imagens, que reforçam reputações de produtos turísticos e destinos, ou acabam com ela.
Os sites de compras coletivas, por outro lado, entram firmes como mediador da oferta, do mercado, forçando de certo modo uma destruição de valor ao permitir descontos que obrigam os ofertantes dos produtos turísticos a baixarem seus preços de forma muito acentuada, sem ganhos de médio e longo prazo.
O turista hoje se utiliza de informações estruturadas em sites oficiais ou privados, e assim há uma comparatividade desta oferta turística em escalas nunca vistas, inclusive com opiniões, sites, blogs e outras mídias, que complementam essas informações.
Ter estratégias adequadas para essas mídias é um imperativo de mercado, e inovações neste sentido, ter presença virtual ativa em redes sociais é fundamental.
Formação de mão de obra, qualificação profissional e ações de proteção e desenvolvimento do patrimônio cultural e ambiental.
O senhor poderia citar alguns exemplos de destinos nacionais ou internacionais em que exista um processo de gestão inovador, com capacidade constante de atualização?
Penso no caso da Conpanhagem como principal, onde a sustentabilidade plena é um grande case, e está deixando para atrás destinos tradiconais como a Suíça, Austrália, Nova Zelandia, Espanha e França.
De um ponto de vista mais objetivo, quais os principais caminhos relacionados à gestão turística que o Brasil deveria seguir rumo ao incremento de sua competitividade?
Melhoria do ambiente regulatório, por ser essencialmente um caso emblemático do setor de serviços, melhorias infraestruturais que acreditamos os megaeventos esportivos vão ajudar a recuperar o tempo perdido, formação de mão de obra, qualificação profissional, e ações de proteção e desenvolvimento do patrimônio cultural e ambiental.
Em outras palavras, como os nossos empreendedores poderão aproveitar melhor as oportunidades geradas pelo mercado do Turismo de Negóvcios & Eventos, como a COP 30 ano que vem, por meio de ações inovadoras a curto e médio prazo?
Capacitando-se, mirando essas oportunidades de forma a entender seus requisitos, ou seja, o que é preciso para aproveitá-las, tornar-se um fornecedor no setor da construção civil, produzir produtos de qualidade, ter estratégias vencedoras de mercado.
Minhas empresas através do programa "ESG 2024-2025", estão voltadas para o apoio às micro e pequenas iniciativas em nossos ecossistemas de relacionamento comercial, tem esse objetivo, dar visibilidade à essas oportunidades e preparar as empresas para aproveitá-las o máximo.
A COP 30 é uma excelente oportunidade, como outros megaeventos e os demais investimentos que estão ocorrendo no país, como o Pré-Sal, etc, de acelerarmos o desenvolvimento competitivo e sustentável desse importante segmento econômico.
Junto com a melhoria da infraestrutura e dos serviços, talvez seja esse um dos melhores legados da Copa para o país, o de ter uma economia mais competitiva, sustentável e integrada, onde as micro e pequenas empresas contribuam com mais valor relativo no bolo do produto interno bruto, reduzindo desigualdades.
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